O mal da nossa época não poupa nem os pequenos. Uma em cada oito crianças apresenta ansiedade em algum grau, de leve a patológico. A identificação dos sinais pela família e escola são essenciais para se buscar o acompanhamento especializado. Existem componentes genéticos que tornam algumas crianças mais sensíveis, mas a criação e o ambiente têm influência igualmente importante.
O comportamento da criança expressa e reflete o contexto em que ela está inserida. Por isso, é preciso ser cuidadoso na hora de traduzir assuntos complexos para elas. Como está em fase de desenvolvimento, ela ainda não tem repertório e recursos para lidar com as situações de estresse e adversidades, o que pode causar muito sofrimento para elas.
E isso acontece também em situações que deveriam ser felizes, como a comemoração do aniversário, ou a espera pelo Natal, por exemplo. O fato de aguardar pela festa, ou por um presente, e a incerteza podem gerar ansiedade e desconfortos físicos decorrentes. Algumas crianças chegam a vomitar diante da espera. A tendência já comprovada por especialistas é que pais ansiosos tenham filhos também ansiosos.
Sendo o Brasil um dos países mais ansiosos do mundo, é natural pensar que esse quadro se estenda também para a infância. Além da carga genética, os responsáveis acabam tornando os problemas dos pequenos ainda piores do que realmente são, e até as crianças não ansiosas acabam tendo dificuldades na convivência com pais ansiosos.
Agravamento
Esta realidade entre as crianças já está presente há bastante tempo, mas se agravou com o isolamento por conta da pandemia, deixando-as ainda mais estressadas, ansiosas e deprimidas. A situação atual é tão séria que fez a Associação Americana de Pediatria declarar “emergência de saúde mental” para crianças e também para os adolescentes.
Em comunicado, divulgado em outubro, a entidade norte-americana defendeu adoção de atitudes emergenciais para preservar a população pediátrica, que no Brasil vai até os 12 anos. A situação pandêmica, com o alastramento da Covid-19, afetou bastante as crianças com o isolamento físico, o medo e a tristeza.
Mas o comunicado também afirma que “mesmo antes da pandemia, os desafios de saúde mental enfrentados pelas crianças eram de grande preocupação, e a Covid-19 só os exacerbou”. Com o retorno às aulas presenciais, a situação também não foi tranquila, pois muitas crianças apresentaram dificuldades para reencontrar as pessoas e voltar à escola.
Os dados do relatório fazem referência aos Estados Unidos, mas refletem uma situação semelhante no Brasil e em outros países nos quais as crianças e jovens apresentam taxas crescentes de ansiedade e outros transtornos mentais que impactam de modo duradouro suas vidas e de suas famílias.
Buscar ajuda
Não há exame clínico para detectar o nível de ansiedade. Impactos psicológicos e questões relacionadas à saúde mental de crianças e adolescentes são muitas vezes negligenciadas. Cabe aos pais ficarem atentos aos sintomas, principalmente quando eles atrapalham a qualidade de vida da criança, persistem por mais de dois meses e causam alteração de comportamento. Estes são alertas para consultar um psicólogo ou psiquiatra infantil.
Em muitos casos, os médicos orientam o tratamento da ansiedade dos pais em conjunto com a da criança. É preciso agir, tendo consciência de que se trata de um problema sério de saúde. Para a criança aprender a lidar com a própria ansiedade, ela precisará se sentir acolhida pelos pais e cuidadores. Além disso, toda a sociedade precisa de maior conscientização sobre possíveis impactos mentais na saúde de crianças e adolescentes.
Asscom | Grupo Tiradentes
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