O herpes-zóster, popularmente conhecido como “cobreiro”, é uma doença causada pela reativação do vírus Varicela Zoster, o mesmo responsável pela catapora. Quando uma pessoa é infectada por esse vírus na infância, ele pode permanecer dormente no organismo por anos e, em momentos de queda da imunidade, voltar a se manifestar. A nova infecção não se espalha por todo o corpo, como na catapora, mas sim em uma região específica da pele, ao longo de um nervo, gerando lesões dolorosas e, em muitos casos, persistentes.
Segundo o Ministério da Saúde, de 2014 a 2024, foram registradas 3.035 internações que evoluíram para óbito por varicela/herpes-zóster no Brasil. O número real, no entanto, pode ser ainda maior devido à subnotificação dos casos, especialmente porque a maioria evolui sem necessidade de internação hospitalar. A incidência cresce com o avanço da idade e com o envelhecimento populacional, contexto que reforça a urgência de medidas preventivas.
Diante desse cenário, o Ministério da Saúde solicitou a incorporação da vacina contra o herpes-zóster ao Sistema Único de Saúde (SUS). Atualmente, o imunizante está disponível apenas na rede privada, com valores que podem ultrapassar R$ 1.000 por dose.
De acordo com o médico infectologista e professor da Universidade Tiradentes (Unit), Matheus Todt, a infecção é muitas vezes subestimada. “Por tratar-se de uma doença autolimitada, isto é, que se cura espontaneamente após 10 a 14 dias, termina sendo bastante subestimada. Infelizmente, como muitas outras doenças no Brasil, há sim uma subnotificação dos casos”, alerta.
Além da dor intensa durante a fase ativa da doença, uma das complicações mais temidas é a neuralgia pós-herpética, quando a dor persiste por meses ou até anos após o desaparecimento das lesões. “Essa dor crônica pode comprometer significativamente a qualidade de vida do paciente. Há ainda riscos de paralisia facial, problemas nos olhos e até encefalite”, explica Todt.
Quem corre mais risco?
Pessoas que já tiveram catapora estão em risco de desenvolver herpes-zóster, mas nem todas manifestam a doença. O risco aumenta com a idade ou em situações de imunossupressão. “Os mais vulneráveis são aqueles com a imunidade mais baixa, como crianças pequenas, idosos, grávidas e pessoas com problemas imunológicos”, afirma o infectologista.
Como funciona a vacina?
A vacina contra o herpes-zóster atua reforçando o sistema imunológico para evitar a reativação do vírus no organismo. Segundo Todt, as versões mais recentes são altamente eficazes, mas não são indicadas para toda a população. “Os públicos-alvo são idosos, pessoas com problemas de imunidade e indivíduos que têm herpes-zóster de forma recorrente”, ressalta. Ele também destaca que se trata de uma vacina segura, com poucos e leves efeitos colaterais.
Desafios e perspectivas para o SUS
Para o especialista, a incorporação da vacina ao SUS seria uma medida positiva do ponto de vista da saúde pública, especialmente se voltada a grupos mais vulneráveis. “Seria uma boa adição ao Programa Nacional de Imunização (PNI). Porém, ainda é um imunizante caro, o que limita muito sua distribuição para a população”, afirma.
Além do custo, Todt aponta barreiras como logística de distribuição, necessidade de educação da população sobre a doença e os crescentes movimentos antivacina. “Esses fatores têm limitado muito a imunização da população”, pontua.
Ainda assim, o médico defende que, mesmo com os desafios, o custo-benefício da vacina pode ser vantajoso para o Brasil, desde que seja direcionada aos grupos certos. “Se considerarmos a vacinação de grupos precisos e limitados, seria algo factível”, avalia.
Conscientização é fundamental
Um dos principais entraves para o controle do herpes-zóster no país, segundo Todt, é a baixa conscientização da população sobre a doença e seus riscos. “A informação sobre a doença ainda é muito limitada. Há necessidade de mais campanhas de conscientização tanto para a população quanto para os próprios profissionais de saúde”, enfatiza.
Esperança de redução nos casos
Com a ampliação da imunização, a expectativa é que os impactos sejam visíveis em médio prazo. “Se conseguíssemos vacinar o percentual mínimo da população-alvo, poderíamos ver uma queda no número de casos, sobretudo dos mais graves, em cerca de um ano”, projeta o infectologista.
Todt também lembra que estudos recentes apontam um aumento no número de casos e internações por herpes-zóster no Brasil nos últimos anos, o que reforça a importância da vacinação. “Precisaremos de muita conscientização e vacinação para começar a mudar esse panorama”, finaliza.
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