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Pesquisadores brasileiros se unem e criam máscaras biodegradáveis, de baixo custo

O equipamento, desenvolvido dentro dos padrões estabelecidos pela normativa RDC nº 356, de 23 de Março de 2020 da Anvisa, garante segurança aos profissionais de saúde em meio à pandemia do novo coronavírus

às 21h16
Profissionais do SAMU participam dos testes
Professora Juliana Cardoso
Professora Patrícia Severino
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Desde o início da pandemia do novo Coronavírus, a Covid-19, os cientistas de diversos países trabalham incessantemente na busca do rastreamento do vírus, evidências da doença, vacinas para prevenção e cura dos pacientes. Outros tantos pesquisadores procuram novas soluções para combater a Covid-19. 

Com a falta de Equipamentos de Proteção Individual – EPIs – em todo o mundo, pesquisadores brasileiros se uniram e criaram máscaras a partir de materiais biodegradáveis e de baixo custo como uma alternativa para utilização no enfrentamento do novo coronavírus. A Delfi-tron, modalidade de máscara de proteção conhecida como respirador filtrante para partículas, foi projetada de acordo com os critérios estabelecidos pela normativa RDC nº 356, de 23 de Março de 2020 da Agência Nacional de Vigilância Sanitária. O trabalho também é aberto para benefício da sociedade. 

Entre os participantes do projeto, duas pesquisadoras da Universidade Tiradentes, a professora doutora Patrícia Severino, do programa de Pós-graduação em Biotecnologia Industrial e a doutora Juliana Cardoso, do Programa de Pós-graduação em Saúde e Ambiente, desenvolvem estudos do novo material.  

“Enquanto pesquisadores somos sempre incentivados a ter um elo e contatos com outras instituições e outros cientistas. Esta mobilidade do pesquisador é muito importante para a ciência. Um desses contatos é o professor Gildário Dias, da Universidade Federal do Delta do Parnaíba, no Piauí, proprietário da startup de Educação em Robótica. Ele formou uma equipe de pesquisadores para desenvolver uma máscara e também selecionar os materiais que seriam utilizados, filtros e protocolos”, explica a professora do curso de Farmácia da Unit, Patrícia Severino. Atualmente, a pesquisadora, bolsista de Produtividade do CNPq, está nos Estados Unidos, em Boston, desenvolvendo pesquisas na área de impressão 3D para regeneração tecidual em seu estágio de pós-doutorado. 

“Este é um problema mundial. O projeto nasceu no Brasil e acabou se tornando referência tanto no país como fora do dele. Isso ocorreu porque estou inserida em uma rede internacional e possibilitou a apresentação do nosso projeto para outros pesquisadores estrangeiros. Já estamos com protótipos em Portugal, Tailândia e na Índia. A viabilidade do produto e segurança gerada pela equipe que desenvolveu o produto, grupo qualificado com diferentes expertises, tem sido o ponto forte do produto”, acrescenta Patrícia. 

Nos Estados Unidos, os primeiros protótipos começarão a ser produzidos no laboratório de atuação da pesquisadora. “Visamos facilitar, em um futuro próximo, o acesso aos EPIs aos Hospitais da Harvard Medical School. Isso só está sendo possível devido às iniciativas do Tiradentes Institute e dos programas de pós-graduação da Unit que proporcionam a internacionalização por meio da mobilidade dos docentes. Assim, uma tecnologia genuinamente piauiense e sergipana tem se propagado de forma bastante satisfatória”, assegura Patrícia. 

A Delfi-tron apresenta um mecanismo de produção simples com a utilização de tecnologia de impressão 3D. Entre as parcerias encontradas para a pesquisa, estão estudiosos das áreas de Farmácia, Biomedicina, Enfermagem, Física, Engenharia e Química. Em Aracaju, os protótipos estão sendo confeccionados no Innovation Tiradentes Center, centro de inovação tecnológica do Grupo Tiradentes, com o apoio de diversos parceiros, como INOVECTOR3D . 

“Estamos com diversos apoiadores, inclusive de matéria-prima para a produção de milhares de máscaras para entregarmos aos profissionais de saúde. Novos parceiros aos poucos estão se somando, como é o caso da empresa Pague menos que fez a doação dos filtros que são colocados no interior da máscara. É  um projeto que tenho muita alegria de participar porque é utilizado para salvar vidas. Em um momento caótico como o que estamos vivendo, é de grande valia. É muito gratificante para um pesquisador”, salienta Severino. 

Máscaras Delfi-tron

A Delfi-Tron, máscara reutilizável e lavável, foi desenvolvida nos últimos vinte dias por uma equipe multiprofissional e parcerias público-privadas para facilitar o uso do equipamento pelos profissionais de saúde e pacientes diagnosticados com COVID-19. A máscara é um produto de baixo custo, empregando matérias-primas biodegradáveis. Além disso, aspectos ergonômicos, praticidade e reutilização após a higienização foram levados em consideração. Apenas é descartado o filtro responsável pelas trocas gasosas. 

“A primeira concepção que tivemos foi o de ser um produto reutilizável, então cada pessoa teria um protótipo para higienização. O que será trocado neste caso será um filtro interno desta máscara composto de algodão. Esta máscara consegue a mesma performance da N95 que está em falta no mercado”, enfatiza professora Juliana Cardoso. 

As máscaras proporcionam conforto e proteção ao usuário. O filtro deve ser trocado sempre que o usuário perceber um aumento na dificuldade de respiração (devido a saturação), se houver danos físicos e quando não estiver mais em condições adequadas de higiene. O custo do produto deve variar entre R$ 5,00 a R$ 15,00 dependo da escala de produção. Já os filtros empregados custam em média R$ 0,15, feitos a partir de materiais básicos encontrados em farmácias e supermercados. 

Já foram realizados testes de retenção e saturação, nanopartículas e de respiração e os resultados obtidos foram bastantes satisfatórios. “Nós temos uma corrente de apoio muito importante. Além dos pesquisadores da Unit, os professores do curso de Enfermagem da instituição de ensino que trabalham na linha de frente da Saúde, no SAMU, por exemplo, estão nos ajudando a fazer uma série de testes para ajustes e melhorias”, frisa Juliana. 

Por causa da pandemia do Coronavírus, a Anvisa liberou uma normativa técnica e as máscaras não precisarão passar por um registro neste momento. No entanto, todos os testes necessários conforme preconizados pelo órgão estão sendo realizados. Agora, os pesquisadores buscam um método para a confecção das máscaras em um menor tempo de produção.  

Parcerias

Além da Universidade Tiradentes, do Innovation Tiradentes Center e do Instituto de Tecnologia e Pesquisa, o projeto conta com a parceria de diversos empresários, órgãos e empresas para a produção da máscara, entre eles o Conselho Regional de Enfermagem – Coren-SE. As pesquisadoras também estiveram reunidas com representante internacional da Braskem para possível parceria para aumento de escala na produção da máscara. 

“A nossa batalha agora é com a busca de investidores. Estamos trabalhando para que possamos conseguir mais e mais parceiros”, ressalta Juliana Cardoso. 

“É um momento muito propício e frutífero para o processo de inovação. E mais, como isto se faz necessário com a cooperação e compartilhamento entre pessoas e instituições e o momento que estamos vivenciando. Estamos testemunhando, na prática, a efetividade desde a geração de ideias até o uso final por parte de quem precisa em um tempo extremamente curto e eficiente nunca antes visto”, garante o professor José Rabelo, CEO do Tiradentes Innovation Center.

Entre as instituições parceiras nacionais estão a Universidade Federal do Delta do Parnaíba, a Universidade Federal do Piauí, o Sesc Piauí, Sesc Minas Gerais, SESI Piauí e FIEPI.

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