Conhecer a história do Quilombo dos Palmares e de líderes como Zumbi é relevante para a história do país. Mesmo com a ausência de registros históricos devidamente reconhecidos sobre a origem e trajetória de Zumbi, as hipóteses são de que ele tenha vindo da África ou nascido em solo brasileiro em 1655 e batizado como Francisco ao ser vendido ao padre Antônio Melo.
“A falta de registros históricos na historiografia brasileira e discursos oficiais sobre o Quilombo dos Palmares, Zumbi, Dandara, Ganza Zumba, Camoanga, Mouza e tantos outros líderes de movimentos de resistência à escravidão, nos impede de saber sobre sua aparência, mas a oralidade não nos impediu de conhecer suas histórias, vitórias e resistências contra o sistema escravocrata”, comenta a professora do curso de História da Universidade Tiradentes EaD, Eunice Aparecida Borsetto.
“Além do aspecto histórico, é importante para o imaginário de pessoas negras brasileiras, como forma de conscientização de sua história e da construção de sua autoestima em uma sociedade patriarcal, branca e rica”, acrescenta.
Segundo a especialista, aos 15 anos Zumbi, batizado como Francisco ao ser vendido ao padre Antônio Melo, foge para o Quilombo dos Palmares, onde atua como chefe do exército de Palmares e homem de confiança do rei Ganza Zumba.
“O Quilombo dos Palmares é um exemplo de “estado, sociedade” que atuou ativamente na manutenção de organizações sociais africanas nos mocambos, acolhendo e protegendo escravos fugitivos (negros, índios ou brancos), mantendo a cultura (técnicas de manufaturas, alimentação, indumentária, música, danças, línguas, costumes) e religiosidades africanas, através das vivências e oralidades, e perseverança como forma de resistência ao período escravagista”, enfatiza.
De acordo com a professora da Unit, Zumbi, à frente do Quilombo dos Palmares, tinha estreita parceria com sua esposa Dandara, mulher, mãe, liderava forças femininas e masculinas em combates, atuante à frente de diversos assuntos do quilombo. “Pouco se conhece sobre sua história, devido à falta de registros históricos, primeiro por ser uma mulher e segundo que não interessava aos grupos escravistas. Em 2019, foi oficializada “Heroína da Pátria” através da Lei nº 13.816”, salienta.
Zumbi assumiu o comando de Palmares, substituindo o então líder Ganga Zumba, que após 33 anos no poder veio a falecer. Governou entre 1678 a 1695, enfrentando ataques de capitães-do-mato e de expedições portuguesas e holandesas financiadas pela colônia ou por senhores de engenho.
Dia Nacional da Consciência Negra
Em 1978, na cidade de Salvador, o Movimento Negro Unificado (MNU) anunciou o dia 20 de novembro, data da morte de Zumbi, como Dia da Consciência Negra. Já em agosto de 1988, foi promulgada a Lei nº 7.668, autorizando o Poder Executivo a construir a Fundação Cultural Palmares (FCP), vinculada ao Ministério da Cultura, com a finalidade de promover a preservação dos valores culturais, sociais e econômicos decorrentes da influência negra na formação da sociedade brasileira.
Em 2003, a Lei nº 10.639 oficializou a data como “Dia Nacional da Consciência Negra” e instituiu a obrigatoriedade do tema “História e Cultura Afro-Brasileira” como componente curricular nas escolas brasileiras. E, em 2011 a então presidente Dilma Rousseff oficializa, por meio da Lei nº 12.519, a data como “Dia Nacional de Zumbi e da Consciência Negra”.
“Mudanças na sociedade são conquistadas de baixo para cima, em uma sociedade onde o preconceito e o racismo são estruturais, a partir de propostas que levam a reflexão sobre quem somos, de onde viemos e para onde vamos, com novas legislações e condutas para com a população negra. Mudanças de comportamentos só serão possíveis a partir do conhecimento e valorização da sua história, com atitudes que estão em nossas mãos”, frisa a professora do curso de História da Universidade Tiradentes EaD, Eunice Aparecida Borsetto.
O projeto de lei 482/2017, aprovado pelo Senado Federal, pode tornar a data feriado nacional a partir dos próximos anos, com a ampliação da celebração da data para todos os estados brasileiros. O texto foi aprovado com duas emendas de redação para incluir o nome Zumbi na data comemorativa, que originalmente constava apenas como Dia da Consciência Negra. Atualmente, a data é comemorada apenas em cinco estados e em mais de mil municípios brasileiros.
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