As mulheres enfrentam desvantagens no mercado de trabalho, barreiras para entrar na política e alcançar posições de liderança; e são as principais vítimas de abusos físico, sexual e emocional no mundo inteiro. A valorização da mulher na sociedade depende do país, cultura e contexto em que é analisada. Embora tenham avançado nas últimas décadas em relação à igualdade de gênero, ainda há muito trabalho a ser feito.
Neste Dia Internacional da Mulher, nossa equipe conversou com colaboradoras da Universidade Tiradentes (Unit) para conhecer sobre histórias de luta, confiança e força. Não é por acaso que todas essas palavras estão no feminino e resumem um pouco da contribuição das mulheres para uma sociedade.
Com apenas 18 anos, a secretária da vice-reitoria, Amanda de Jesus Pereira Santos, partiu para uma missão voluntária na África, em um projeto da Igreja Batista. Durante quatro anos, elas se dividiu entre treinamentos, aulas de francês e de cultura africana no Rio de Janeiro (RJ) e em Dacar, no Senegal, até seguir para o destino final: Kayes, no Mali, onde desenvolveu diversos projetos sociais e educativos, além de viver uma imersão na comunidade local.
“O primeiro projeto foi de educação bucal, ensinando crianças de cinco a nove anos a escovar os dentes. Em parceria com a igreja local, abrimos uma escola para crianças de quatro a seis anos e dávamos aulas de alfabetização em francês enquanto uma professora traduzia para o dialeto da maioria, que é o bombara. Fizemos também um trabalho na área de tecnologia com aulas de informática e trabalhamos com esporte, ensinando vôlei e futebol para meninos e meninas”, conta.
Com 94% da população muçulmana, as mulheres no Mali têm a atribuição de cuidar da casa e dos filhos. Mesmo assim, Amanda revela que elas também foram alcançadas pelas ações diárias e amizade do grupo missionário. “Foi desafiador, mas aprendemos a olhá-las com respeito. Demos aulas de informática para elas e as meninas também puderam aprender um esporte, que majoritariamente era somente para os meninos. Fazíamos muitas visitas nas casas e cozinhávamos com elas. Com isso, mostramos que elas tinham espaço também”, diz.
Para Amanda, a experiência fez com que ela ampliasse os horizontes e se conhecesse mais. “Eu fui menina e voltei mulher. Vivi todo esse processo de identidade. Foram uma transformação e um aprendizado muito grandes; a maior experiência da minha vida. De serviço, de empatia e de fé que Deus supre as necessidades. Como foi um trabalho voluntário, eu não recebi nada. Todo o custo foi com ajuda da minha família e da minha igreja. Eu realmente voltei outra mulher”, conclui.
A mulher que trabalha fora
A supervisora de marketing da Unit, Elis di Moura Santa Bárbara está há 10 anos inserida no mercado de trabalho na área de Publicidade Propaganda e divide seu tempo entre ser esposa e mãe que trabalha fora. “Quando me formei, já estava namorando com meu atual marido e fui construindo a minha carreira profissional paralelamente à minha vida pessoal, sempre muito feliz e consciente dos meus objetivos. Há três anos eu tive uma filha, Maísa, e depois dela eu tive uma visão diferente do mercado de trabalho. Eu achava que vivendo e dedicando 100% dos meus dias e horas para o trabalho era bom, mas percebi que eu tenho muito mais tempo do que as 24h que eu tinha antes de Maísa”, afirma.
“Eu sou julgada porque trabalho fora e minha filha passa o dia todo na escola. Mas, eu acredito que o que eu estou construindo vai além disso. Ela está em um excelente local que está contribuindo para a formação dela. E eu não me sinto menor por causa disso, muito pelo contrário. Eu sinto que sou capaz de exercer essas inúmeras funções que exerço, consigo acompanhar e participar das atividades da minha filha de forma satisfatória enquanto ocupo um cargo de gestão”, enfatiza a supervisora.
Segundo Elis, a maternidade foi o começo de uma transformação. “Eu demorei para me enxergar da forma como sou hoje, a entender que certas posições eu não ocupava por causa da minha cor e por ser mulher. Passei por um processo de reconhecimento muito interessante que veio junto com a maternidade e com a mudança de visual quando eu parei de alisar o cabelo e me reconhecer como mulher negra. Não é fácil, mas eu gosto de ser supervisora de marketing, mãe, esposa e gosto de cuidar da minha casa. Nenhuma dessas funções está sendo um peso e está em uma balança muito bem equilibrada”, ressalta.
A mulher na ciência
De acordo com a Unesco, em todo o mundo, as mulheres são menos de 30% entre os pesquisadores científicos. Entre elas, está a docente da Unit e pesquisadora do Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP), doutora Patrícia Severino. Graduada em Farmácia pela Universidade Metodista de Piracicaba; mestre e doutora em Engenharia Química pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), também possui dois pós-doutorados, um pela Unicamp e outro pela Escola de Medicina de Harvard.
Para além do currículo, fora da universidade ela revela que: “amo viver o mundo e sou muito otimista. Também sou mãe do gato persa Nino, aprecio boa música e toco ukulele” e conta o maior desafio que enfrentou. “Foi construir e marcar meu nome na ciência para alcançar reconhecimento nacional e do mundo. Enfrentei desafios diários que me fortaleceram e fizeram eu ficar mais forte para construir minha carreira”, releva.
“Eu gostaria que as mulheres tivessem as mesmas oportunidades que os homens, para tal ainda teremos muitos anos de lutas e empenho para superar uma história enraizada em nossa sociedade. Espero que a minha história possa inspirar meninas e mulheres a buscarem seus objetivos profissionais”, deseja Severino.
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