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Brasileiros são os que mais desenvolveram ansiedade em todo o mundo

As crises de ansiedade são desenvolvidas principalmente por ambientes, rotinas e situações de estresse, inclusive no âmbito profisional (Energepic.com/Pexels)

às 18h47
As crises de ansiedade são desenvolvidas principalmente por ambientes, rotinas e situações de estresse, inclusive no âmbito profissional (Energepic.com/Pexels)
As crises de ansiedade são desenvolvidas principalmente por ambientes, rotinas e situações de estresse, inclusive no âmbito profissional (Energepic.com/Pexels)
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Muitos se acostumaram à rotina de perder o sono, balançar as pernas, roer as unhas, suar muito, andar para os lados e dar outras demonstrações imperceptíveis (ou nem tanto) de um comportamento que tem se mostrado comum entre os brasileiros: a ansiedade, definida como uma preocupação intensa, excessiva, persistente e com medo de situações cotidianas.  

O Brasil já é considerado como o país de maior incidência desse transtorno em todo o mundo, como mostram os resultados do Covitel 2023 (Inquérito Telefônico de Fatores de Risco para Doenças Crônicas Não Transmissíveis em Tempos de Pandemia), um levantamento realizado entre 2 de janeiro e 18 de abril com 9 mil pessoas de todas as regiões do país. Segundo o inquérito, feito pela organização de saúde Vital Strategies Brasil, 26,8% dos entrevistados já receberam diagnóstico médico de ansiedade, e outros 12,7% admitiram estar com depressão. Outra pesquisa, feita em 2022 pela Organização Mundial da Saúde (OMS), demonstrou que a prevalência global de ansiedade e depressão, ou seja, em todo o mundo, aumentou em 25% durante a pandemia de Covid-19. 

A professora e psicóloga Cláudia Mara de Oliveira Bezerra, docente do curso de Psicologia da Unit e especialista em terapia cognitiva comportamental, explica que a ansiedade é uma emoção, como também são a tristeza, a alegria, a raiva, etc., e ao mesmo tempo é uma resposta emocional a determinadas situações do dia-a-dia. “A ansiedade é um transtorno mental comum. Todo mundo está propício e em algum momento da vida, se tiver uma predisposição, a ter uma crise de ansiedade. Mas a partir do momento que a ansiedade vai interferindo na vida profissional, nas atividades escolares ou acadêmicas, ela gera interferência significativa, a ponto de ser um transtorno”, explica.

Diversos fatores são apontados como causas de desenvolvimento da ansiedade, estando mais ligados ao estilo de vida, à rotina profissional e ao ambiente em que se vive, principalmente aqueles nos quais existem fortes situações de estresse, como conflitos, desemprego e violência. Muitos destes conflitos são atribuídos ao dia-a-dia de grandes cidades ou metrópoles, e agravados por problemas cotidianos como trânsito e desemprego. 

“Não há um estudo específico que determine que uma determinada região tem uma concentração maior de casos de ansiedade, mas há locais em que a incidência pode ser um pouco maior. Por exemplo, regiões com alta concentração de desemprego, regiões com alta concentração de violência… isso pode ser um gatilho, uma situação desencadeante para um tranche de ansiedade ”, pontua Cláudia, dando o exemplo da cidade de São Paulo, a maior e mais populosa do país. “A vida é muito acelerada, o capitalismo é muito intenso, então as pessoas trabalham mais do que vivem. A vida social acaba sendo muito reduzida, e o momento de lazer, um feriado lá, é voltado para o trabalho”, diz ela.  

Outro fator apontado pela psicóloga como um agravante para a ansiedade é a situação de crise socioeconômica, quando uma família enfrenta dificuldades para manter a renda ou conseguir um emprego. “Imagine você ter um padrão X de vida, em menos de seis meses esse padrão reduz e você tem que passar por diversas adaptações na sua rotina, como retirada do filho de escola, mudanças de veículo, de moradia, no padrão de vida. Então isso vai tirar o sono, vai interferir na sua relação no dia a dia, no seu humor, no modo de vida de uma forma geral. E consequentemente acaba sendo também um gatilho”, detalha.

Entendendo a ansiedade

A ansiedade é um dos transtornos que são detectados e tratados através da terapia cognitiva comportamental (TCC), uma abordagem da psicologia que aborda, em suas intervenções, a relação entre o pensar, o sentir e o comportamento. De acordo com Cláudia Mara, a TCC busca entender o quanto o pensamento influencia nas nossas emoções e até mesmo no nosso comportamento. 

“Durante as intervenções, é avaliado junto com o paciente o que é que interfere no dia a dia dele, qual o pensamento que, por exemplo, pode engatilhar uma sensação desconfortável para ele, e aí a TCC vai caminhando diante dessas identificações, junto com os pacientes, para desenvolver manejos e estratégias para comportamentos que muitas vezes desafiam, por exemplo, lidar com a ansiedade”, explica a professora, destacando que a terapia busca ainda “entender e abordar, com muito cuidado, o que é que engatilhou, o que é que interferiu, quais são as preocupações dessa pessoa que vem gerando respostas que não são tão confortáveis para o dia a dia, ao ponto do sujeito não conseguir lidar com ansiedade diante das suas atividades escolares, acadêmicas, dentre outras”. 

Além da terapia, a pessoa com ansiedade também deve cuidar melhor da própria saúde mental e corporal, adotando mudanças no estilo de vida. Isso passa por uma alimentação equilibrada, pela realização de atividades físicas e, principalmente, por manter um sono de boa qualidade, dentro do tempo recomendado de oito horas por dia. A psicóloga recomenda a chamada “higiene do sono”, que é a redução do uso de telas e de outros estímulos que dificultam o sono e aumentam as chances de desenvolver ansiedade. 

“A redução do uso de tela também é um ponto significativo. Há pessoas que têm uma facilidade para dormir, e há pessoas que não têm. Aí é necessário reduzir essas telas para que esse momento do sono seja colocado de uma forma muito cuidadosa, até que a pessoa consiga dormir sem o indutor do sono. Mas há pessoas que precisam desse indutor, e aí é onde entra a parte medicamentosa junto com profissionais da psiquiatria”, conclui Mara. 

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