Os recentes desastres climáticos no Rio Grande do Sul, incluindo enchentes e deslizamentos de terra, evidenciam a urgente necessidade de capitais brasileiras adotarem planos diretores de mudanças climáticas. Um estudo do Núcleo Vitória revela que 15 das 27 capitais do Brasil não possuem um Plano de Mudanças Climáticas, colocando milhões de vidas e a infraestrutura urbana em risco.
A arquiteta e professora de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Tiradentes (Unit), Layla Araújo enfatiza que as mudanças climáticas já são uma realidade prevista pela ciência, e é essencial que as grandes cidades tenham estratégias para lidar com esses eventos. “As cidades interferem no meio ambiente, da mesma forma que sofrem as consequências de desastres ambientais, e é importante que as grandes cidades já tenham planos para saber como agir em momentos catastróficos”, pontua.
Para ser eficaz, um Plano de Mudanças Climáticas deve incluir várias medidas integradas, como:
- Redução da emissão de gases poluentes: Através de políticas públicas que incentivem o uso de transporte público, bicicleta e energia renovável.
- Gerenciamento de resíduos: Implementação de coleta seletiva, reciclagem e compostagem.
- Reuso da água: Tratamento e reuso de águas pluviais e residuais.
- Mobilidade urbana sustentável: Priorização de pedestres, ciclistas e transporte público.
- Proteção de áreas verdes: Criação de parques, jardins e áreas verdes dentro e ao redor das cidades.
- Abastecimento de água e esgotamento sanitário: Garantia de acesso à água potável e tratamento de esgoto para todos.
Impactos da ausência de planos
A ausência de um Plano de Mudanças Climáticas resulta em falta de diretrizes para lidar com eventos climáticos extremos. “A falta do Plano vai impactar justamente pela falta de direcionamento e estratégias para lidar com as mudanças que estão em curso, para evitar que desastres aconteçam, ou ainda, que quando aconteçam, já se tenha um direcionamento de ações para mitigar os efeitos causados, em casos de inundações e alagamentos de áreas urbanas, deslizamentos de terra, falta de abastecimento de água potável e energia elétrica, entre tantos outros que podem acontecer”, infere.
Outras consequências destacadas também incluem:
- Aumento do número de desastres naturais: Inundações, deslizamentos de terra, secas e outros eventos extremos podem se tornar mais frequentes e intensos.
- Deterioração da infraestrutura urbana: Ruas, pontes, redes de energia e outros sistemas podem ser danificados por eventos climáticos extremos.
- Prejuízos econômicos: As empresas e a economia local podem ser afetadas por interrupções na produção e no comércio.
- Problemas de saúde pública: Doenças transmitidas por água e ar podem se proliferar devido às mudanças climáticas.
- Aumento da desigualdade social: As comunidades mais pobres e vulneráveis são as mais propensas a serem afetadas pelos impactos das mudanças climáticas.
Desafios, boas práticas e conscientização
A arquiteta destaca que além de um bom plano, exemplos globais de boas práticas de planejamento climático podem ser aplicados. “A priorização da mobilidade urbana sustentável é uma das que mais se destaca em casos mundo afora, já é conhecido que um dos grandes responsáveis pela poluição ambiental e mudanças climáticas é a liberação de gases do efeito estufa, feito por automóveis. Então pensar em estratégias que priorizem os meios não poluentes, ou menos poluentes, é um importante começo”, ressalta Layla.
Entretanto, implementar esses planos enfrenta vários desafios, principalmente a necessidade de integração entre diferentes grupos sociais e políticos. “É uma questão ampla que envolve decisões políticas, econômicas e sociais. Chegar a um consenso adequado para todos os setores é um grande desafio. Essa integração é fundamental para a eficácia dos planos”, explica Araújo.
A educação e a conscientização sobre mudanças climáticas também são vitais para o planejamento urbano. Layla enfatiza que as políticas participativas são fundamentais nesse processo. “São estratégias e decisões que precisam ser tomadas em conjunto, com uma gama de profissionais que estudam de forma aprofundada todo esse assunto que envolve as questões socioambientais (além de arquitetos e urbanistas, geógrafos, sociólogos, geólogos, engenheiros civis, dentre vários outros); bem como contar com a participação da população – não são decisões a serem tomadas a portas fechadas. É necessário a participação de toda a sociedade”, finaliza.
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