Muita gente já ficou intrigada ao sentir e ouvir um “troc” no joelho enquanto caminha, levanta ou simplesmente se espreguiça esticando as pernas. É o chamado “estalo” nos ossos, que às vezes pode dar uma sensação de relaxamento, mas também pode ser de dor ou desconforto (a popular “gastura”). Boa parte das pessoas têm uma reação bem-humorada, brincando que está “ficando enferrujada” ou “sem lubrificação”, mas esse barulho também costuma levantar a suspeita e o medo de que alguma coisa esteja errada ali, como uma lesão ou fratura.
A literatura médica considera estas duas hipóteses, mas em boa parte dos casos, não se trata de nada grave, como explica o professor Madson Rodrigo Silva Bezerra, dos cursos de Educação Física e Fisioterapia da Universidade Tiradentes (Unit). “Se o joelho estala sem nenhum sintoma, sem a presença de dor, pode ser simplesmente o vácuo ou bolha de gás que se forma dentro da própria articulação. Então, nesse caso, pode não ser nada grave, mas também pode ser uma instabilidade articular, uma fraqueza articular ou a falta de fortalecimento na musculatura da região, que pode promover uma instabilidade óssea entre os ossos que formam a articulação, e a partir daí gerar esses estalos ou até mesmo a própria crepitação” diz ele.
Estes estalos também podem ocorrer em outros ossos e articulações do corpo, como dedos, tornozelos, punhos, cotovelos, ombros e até mesmo a coluna vertebral, onde os estalos podem ser sentidos em tratamentos de quiropraxia ou osteopatia. Outro exemplo, citado pelo professor, é o gesto de estalar as falanges dos dedos, que muitos personagens fazem em filmes ou desenhos antes de iniciar uma luta, como sinal de preparação. “É algo que ocorre nas articulações pelo encontro dos ossos, pela formação de bolhas. A literatura cita o próprio nitrogênio formando dentro das articulações e aí eles podem vir a gerar o barulho”, acrescenta Madson.
Por outro lado, caso o estalo ou crepitação venha acompanhado por dores, inchaços ou mesmo o “travamento” da articulação, a hipótese de algum problema precisa ser examinada e investigada por um ortopedista ou um fisioterapeuta. “Isso não é um bom sinal. Quer dizer que pode ser um deslocamento de menisco, um deslocamento de patela ou mesmo alguma patologia. Nesses casos, a indicação é procurar ortopedista para que ele faça um exame de imagem ou uma ressonância. Depende da intensidade ou dos sintomas que vem a trazer tanto o estalo quanto essa limitação articular ou da amplitude de movimento. Ou mesmo outros sintomas que possam vir a ocorrer”, orienta Madson.
O professor também detalha que o estalo no joelho pode demonstrar uma instabilidade articular, que se não for tratada, pode evoluir para um agravo, uma lesão ou mesmo um desgaste nas cartilagens e que pode mesmo gerar uma artrite ou uma artrose. Isso acontece a partir de fatores como a perda do volume muscular. “Exemplo: o sujeito perdeu o volume muscular, perdeu a proteção à cápsula e aí vai gerar, digamos assim, uma ‘folga’. E daí vai gerar esse desencontro, essa falta de congruência articular que pode vir a gerar os estalos”, diz Madson, pontuando que são muitos os sintomas que podem promover um estalo ou crepitação, “mas eles têm uma causa raiz”.
Como tratar e prevenir
Em caso de o estalo indicar algum problema, lesão ou instabilidade, o primeiro passo é identificar a causa do problema e, a partir desta causa, definir as melhores formas de tratamento. As corretivas são elaboradas e administradas por um fisioterapeuta ou um médico ortopedista. Já entre as preventivas, está o fortalecimento muscular, através da prática constante da atividade física. De acordo com Madson, os exercícios de aquecimento, alongamento e mobilidade antes da prática da atividade física promove a liberação do líquido sinovial, que é produzido nas articulações e lubrifica as cartilagens, diminuindo o desgaste e a força de atrito para melhorar o próprio movimento articular.
“Se eu vou fazer musculação ou um exercício com alta intensidade e não preparo a minha articulação, é um prelúdio para que o meu joelho venha a ter instabilidade e venha a estalar, para que ele me sinalize que alguma coisa não está certa”, alerta, citando também que as articulações e células cartilaginosas não têm um grande poder de regeneração, como as musculares, ou de recalcificação, como nas ósseas. É muito importante que se cuide das articulações, principalmente o joelho, que está ligado à maioria dos movimentos diários. Tanto a atividade física constante quanto uma alimentação regrada vão ser fatores que fortalecem as articulações e evitam a degeneração articular”, finaliza o professor, referindo-se ao consumo de alimentos ricos em colágeno, substância que fortalece os ossos e articulações.
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