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Como a falta de sono e o abuso de álcool podem estragar o seu Carnaval

As queixas de saúde mais comuns nos serviços médicos durante a festa são a desidratação causada pelo excesso de bebida e pelas noites mal-dormidas, o que aumenta o risco para o surgimento de outras doenças

às 15h17
O Carnaval pode ser bem aproveitado e curtido pelos foliões, desde que com moderação e respeito aos limites do próprio corpo (Tony Winston/Agência Brasília)
O Carnaval pode ser bem aproveitado e curtido pelos foliões, desde que com moderação e respeito aos limites do próprio corpo (Tony Winston/Agência Brasília)
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O Carnaval é historicamente definido como “a festa da carne”, embora ela venha acompanhada por litros e litros de bebida, entornados por dias e madrugadas adentro em meio a uma infinidade de festas, sambas, bloquinhos e trios elétricos que se espraiam ao longo das horas de sol, lua e chuva. Este cenário de todos os anos dá margem a excessos e, invariavelmente, a alguns problemas de saúde ou outros causados pelos próprios excessos da festa. É tanto que os hospitais e postos médicos montados nos próprios eventos já ficam preparados para atender a foliões em situação de embriaguez ou com lesões causadas por acidentes ou brigas. 

As queixas de saúde mais comuns que costumam ser feitas nos serviços médicos, durante o período do carnaval, se relacionam a sinais de desidratação, como dor de cabeça, tontura, boca seca, sede excessiva, urina mais escura, mal-estar ou visão escurecida, que normalmente estão associados ao calor, transpiração excessiva ou ingestão de bebida alcoólica. Passada a festa, tais queixas dão lugar aos sinais de doenças infectocontagiosas causadas pelo contato com grandes aglomerações, a exemplo das infecções respiratórias, conjuntivite, viroses gastrintestinais e Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs).

Boa parte destes problemas são potencializados pela falta do sono adequado, isto é, a falta de descanso do corpo por causa das noites que não são dormidas adequadamente. A professora Priscila Laise dos Santos, do curso de Enfermagem da Universidade Tiradentes (Unit), cita a Organização Mundial de Saúde (OMS) para alertar que o sono restaurador é um componente essencial para o fortalecimento do sistema imunológico. “É durante o sono que o nosso sistema de defesa é ativado, aumentando a produção de anticorpos e de citocinas pró- e anti-inflamatórias necessárias à defesa do organismo contra agentes invasores, como vírus e bactérias, prova disso é o aumento da sonolência nos momentos em que adoecemos”, explica.

As noites sem sono podem provocar sonolência, dificuldade de concentração, irritabilidade, dificuldade de memorização, irritabilidade, fadiga e outros sintomas. “Quanto mais noites o indivíduo fica sem dormir, mais intensos se tornam esses sinais e sintomas, o que pode favorecer a malefícios à saúde”, alerta Priscila, citando problemas como enfraquecimento do sistema imunológico, dificuldade de aprendizagem e risco aumentado de infarto agudo do miocárdio e do acidente vascular encefálico, mais conhecido como AVC ou “derrame”.

Efeitos do álcool

Ainda de acordo com a professora, o álcool afeta o sistema imunológico e favorece as manifestações de desidratação, em virtude da perda excessiva de água por ação do hormônio antidiurético (ADH). “Por se tratar de uma substância tóxica, ao ingerir bebida alcoólica, nosso organismo libera o ADH, que aumenta o volume urinário na tentativa de excretar o máximo de álcool possível na urina, favorecendo a desidratação. Já em relação ao sistema imunológico, o álcool pode danificar e/ou mesmo reduzir a produção de células de defesa, reduzir a quantidade de nutrientes necessários para o funcionamento do sistema imunológico, além de desencadear inflamações intestinais, impedindo a absorção adequada de novos nutrientes, e destruir bactérias benéficas da nossa microbiota intestinal”, detalha.

Além da desidratação, outros efeitos do uso excessivo de álcool são as náuseas e vômitos, que muitas vezes são descarregados no meio da rua por pessoas em embriaguez. Trata-se de uma reação do organismo ao consumo aumentado de álcool. “Estas reações são decorrentes de ações conjuntas do fígado e do sistema nervoso central, na tentativa de metabolizar o álcool, transformando-o em uma substância menos tóxica e excretá-lo do organismo de alguma forma”, diz Priscila, citando ainda que, no dia seguinte à bebedeira, vem a famosa “ressaca”, com fortes dores de cabeça e um gosto bastante amargo na boca. “Ela tende a surgir mais tardiamente, resultante da desidratação e do gasto exacerbado de glicose realizado principalmente pelo fígado e pelo cérebro com o intuito de reduzir os danos ao organismo. A dor de cabeça típica da ressaca reflete a perda considerável de água no cérebro”, diz ela. 

Não existe uma recomendação mínima que seja segura em relação ao consumo de álcool. A própria OMS define como dose padrão a quantia de 10g de etanol puro, recomendando  que homens e mulheres não excedam duas doses por dia e se abstenham de beber pelo menos dois dias por semana para evitar maiores prejuízos ao organismo. “Podemos ter noção da magnitude disso quando comparamos este valor ao de uma lata de cerveja de 350 ml (4,5%), que possui 14g de etanol puro. Um quantitativo superior ao de uma dose padronizada pela OMS”, compara a professora da Unit. 

Outro alerta é acrescentado: as noites sem dormir associadas ao uso excessivo de álcool potencializam ainda mais todos esses sintomas, principalmente no que se refere a alteração dos padrões de humor, déficit de concentração, enfraquecimento do sistema imunológico e acometimentos cardiovasculares.

Dá pra recuperar

A boa notícia é de que o Carnaval pode ser bem aproveitado e curtido, desde que com moderação e respeito aos limites do próprio corpo. Para se recuperar de uma noite de folia, é importante descansar bem para recuperar as horas perdidas de sono, além de manter uma hidratação adequada, aumentar o consumo de alimentos saudáveis e ricos em água (como frutas, legumes e verduras) e repor os eletrólitos perdidos (água de coco é uma excelente opção). 

A pessoa também deve evitar alimentos ultraprocessados (como refrigerantes, doces, biscoitos, macarrão instantâneo, dentre outros) e realizar atividades físicas ,como andar de bicicleta ou praticar caminhadas. “Aproveite sem exageros, intercale diversão com descanso, durma bem, mantenha hidratação frequente e alimentação saudável, utilize protetor solar e caia na folia”, avisa a professora Priscila. 

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