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Crianças trans: como acolhimento da família faz a diferença

O apoio da família é fundamental para o desenvolvimento e para a diminuição de vulnerabilidade social de pessoas trans

às 20h58
Elaine Matos
Elaine Matos
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“Amor, respeito e acima de tudo muito diálogo”. É assim que a servidora pública Elaine Matos descreve sua relação com o filho Lucas, de 10 anos, uma criança transgênero. A transexualidade refere-se à condição do indivíduo cuja a identidade de gênero (também chamada de identidade de sexo) diverge do sexo físico biológico. E, mesmo com avanço no que diz respeito a direitos igualitários para pessoas LGBTQIA+, os transexuais ainda são um dos grupos que mais sofrem violência e preconceito, fato que torna o apoio da família fundamental. 

Elaine conta que seu filho nasceu com a genitália feminina e sempre foi uma criança considerada comum pelos padrões impostos pela sociedade. Mas, aos oito anos de idade, Lucas revelou para a mãe que achava que era um menino, causando espanto, em um primeiro momento, na mãe.  “Confesso que não levei a história muito a sério. Mas nesse período de férias escolares, Lucas começou a pegar roupas de um primo mais velho para vestir e também me pediu para cortar o cabelo. Acabei não deixando”, relata. 

Alguns anos depois, Lucas voltou a falar no assunto e juntamente do pai da criança, os dois decidiram procurar um especialista. “Era a segunda vez que esse tema surge, então  eu achei válido  que a gente olhasse com mais atenção e cuidado, investigando se de fato isso é uma vontade genuína. Portanto, entrei em contato com uma mulher trans que foi minha orientadora do mestrado e pedi a ela que me ajudasse com a indicação de uma terapeuta que fosse especialista no assunto, já que nem todos possuem experiência com o tema”. 

Em um momento crucial da sua jornada, Elaine conheceu a ONG Mães pela Diversidade, onde pôde fazer amizades com outras mães e trocar experiências sobre o tema. Através da ONG, Lucas conheceu outras crianças trans e após encontrar com os colegas pessoalmente, ele se fortaleceu. “Foi nesse momento que Lucas nasceu de fato. Ele se empoderou e conheceu outras crianças como ele, e logo após o encontro, ele publicou no Instagram e contou para o resto da família e nós fizemos o necessário junto a escola, terapeuta e diversos outros médicos e profissionais”, conta.

De acordo com a professora de Direito da Universidade Tiradentes, Acácia Lelis, vale destacar que toda criança tem o direito de crescer e se desenvolver de forma segura e saudável. “Deve ser assegurado o respeito a sua dignidade. É essencial que nenhuma criança seja discriminada. O respeito à identidade independe da idade, e toda criança deve crescer em um ambiente seguro e sem preconceitos. Assim, é necessário o respeito e orientação  a identidade trans para que a criança não sofra traumas que irão repercutir por toda a vida”.    

Acácia afirma que os pais ou responsáveis pela criança devem buscar orientação e apoio de profissionais que auxiliarão a compreender e agir com a criança trans, visando atender todas as suas necessidades. Elaine explica que o processo não foi fácil, mas que o acolhimento e o apoio da família são de extrema importância.

“Eu me desconstruí totalmente em relação a gênero, sexualidade e sobre a minha maternidade. Entramos em processo terapêutico de desfazer toda aquela projeção que fazemos inconscientemente com os nossos filhos. Mas também foi algo muito enriquecedor enquanto pessoa e enquanto mãe. Um processo sempre de muito amor e proximidade e a gente vai enfrentando cada desafio de uma vez, sempre juntos”.

 

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