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Dissertação de mestrado no PEP estuda produção de bioquerosene de aviação

Material usado em aeronaves pode ser produzido a partir da casca do coco e do bagaço de cana; estudos derivados tiveram boa repercussão em congressos nacionais e internacionais

às 14h47
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Há mais de 50 anos, cientistas do mundo inteiro se debruçam sobre fontes alternativas de produção de combustíveis, que venham a substituir o petróleo, a gasolina, o querosene e outros derivados de combustíveis fósseis. Uma dessas fontes, a biomassa produzida a partir de resíduos naturais ou orgânicos, pode produzir até mesmo o querosene de aviação, utilizado por aeronaves em geral. Este é o foco das pesquisas desenvolvidas no Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Processos (PEP), da Universidade Tiradentes (Unit), em conjunto com o Núcleo de Estudos de Sistemas Coloidais (Nuesc) do Instituto de Tecnologia e Pesquisa (ITP)  Uma delas é o tema de dissertação de mestrado que será defendida no próximo dia 31 de julho pelo pesquisador Jônatas Levi Campos Barbosa, cuja história de vida já foi contada aqui

Orientado pelo professor-doutor Cláudio Dariva, do PEP, Jônatas vem trabalhando com dois materiais de alta influência regional e nacional: a casca de coco e o bagaço de cana de açúcar. O autor explica que existem diversos métodos de transformação dos materiais em insumos que posteriormente são sintetizados em combustíveis: a gaseificação (transforma tudo em biogás), a liquefação (em um tipo de líquido/bio-óleo) e a fermentação (fermenta a biomassa e transforma em álcool e depois sintetiza combustíveis). “Quaisquer biomassa podem ser usadas nessas rotas, desde bagaço de cana, casca de coco, lixo urbano, algas, etc. Mas dependendo da biomassa, uma rota é mais eficiente do que outra”, explica.

A dissertação de Jônatas concentra-se na gaseificação de biomassa para a produção de gás de síntese e possível uso deste gás para produzir biocombustíveis avançados, como fuel gas, bionafta (biogasolina), bioquerosene e biodiesel. “A gaseificação, além do bagaço de cana-de-açúcar (neste primeiro momento), utilizaremos a casca de coco-de-água verde, algo muito forte em Sergipe e Nordeste. Estamos desenvolvendo pesquisa ímpar no Brasil sobre isso (não apenas eu, mas todos do grupo do trabalho do Nuesc)”, diz o pesquisador, destacando que este é um dos primeiros projetos de maior valor que a Unit já teve para produção de bioquerosene de aviação por meio de biomassa.

O mestrando conta que o início do trabalho exigiu a superação de um desafio: a elaboração de um relatório técnico para a companhia petrolífera Galp, de Portugal, que encomendou o projeto de desenvolvimento de biocombustíveis. “De cara, precisei aprender a usar um software da indústria para fazer entrega de relatório em outubro de 2023. Foi muito interessante, fácil não foi. Tinha reuniões quinzenais com a empresa e às vezes eu ficava triste pelo meu rendimento. Mas, graças a Deus, deu tudo certo: entregamos o relatório no prazo e a empresa revelou que pediu relatórios semelhantes a duas outras universidades do país, mas o nosso foi o melhor”, lembra.

Repercussão positiva

A pesquisa do PEP/Unit sobre a gaseificação se desdobrou em trabalhos inscritos e apresentados em quatro congressos temáticos, sendo dois nacionais e dois internacionais. Além disso, está sendo preparado um artigo para publicação em uma revista científica especializada. 

Um destes eventos, ocorrido em junho deste ano, foi o 3º Congresso da RBQAv (Rede Brasileira de Bioquerosene e Hidrocarbonetos Sustentáveis para Aviação), realizado em Foz do Iguaçu (PR). O trabalho lá apresentado foi um estudo de preço de nivelamento para o bioquerosene, bionafta e biodiesel advindos da gaseificação do bagaço da cana. “É basicamente o preço final do quilo do combustível para não se ter prejuízo. Simulamos uma planta em nível industrial com processamento de 125 toneladas de bagaço por hora, durante 330 dias por ano e em 20 anos. Foi um estudo muito abrangente e validado por uma empresa industrial do ramo”, disse Jônatas. 

A participação no congresso da RBQAv teve uma grande repercussão positiva, atraindo interesse e contatos com empresas e outros institutos de pesquisa que atuam no ramo, como o Laboratório Nacional de Biorrenováveis (LNBr), ligado ao Centro Nacional de Pesquisa em Energia e Materiais (CNPEM); e as universidades federais de Goiás (UFG), Paraná (UFPR) e Rio Grande do Norte (UFRN). 

“Tais estudos perfazem tudo que um investidor precisa para tomar a decisão de criar ou não uma indústria no setor. Isso modela políticas públicas”, destaca o autor, citando que muitas possibilidades estão abertas para que o bioquerosene de biomassa seja aproveitado no mercado, a começar pela Lei 14.248/2021, que criou o Programa Nacional do Bioquerosene e estabelece, entre outras medidas, que o bioquerosene seja utilizado como parte combustível utilizado em todos os voos. “Simplesmente, hoje todos querem bioquerosene. Até o setor marítimo. Diferente do biodiesel, que sofre com a baixa da frota de carros, caminhões, pick-ups, o uso do bioquerosene só aumentará, pois a oferta de voos só aumenta em todo o mundo. E o comércio marítimo também”, completa Jônatas. 

No doutorado

Os estudos feitos por Jônatas terão continuidade no doutorado do PEP, que seguirá o mesmo projeto de desenvolvimento de biocombustíveis, mas com foco na Análise de Ciclo de Vida (ACV), uma técnica que estuda os aspectos ambientais e os impactos potenciais ao longo da vida de um produto ou serviço, bem como na integração de processos termoquímicos e biológicos aplicados à produção de biocombustíveis. De acordo com o pesquisador, trata-se de um método de análise utilizado por instituições que lideram as pesquisas sobre biocombustíveis no Brasil, como o próprio CNPEM, o Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (IEE/USP) e o Instituto de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (Coppe/UFRJ). 

“A Análise de ciclo de vida é algo muito mais abrangente e de maior aplicação. Mas sim, continuarei seguindo na análise de gaseificação, juntamente com outros processos, como a pirolise, liquefação, processos HEFA, ATJ – todos processos de geração de biocombustíveis avançados”, afirma ele, acrescentando que, com isso, a Unit e o ITP se colocam na linha de frente dos projetos relacionados aos biocombustíveis. “Estamos, juntamente com outros grupos nacionais e internacionais na vanguarda. Em uma simples palavra, é sensacional”, comemora Levi. 

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