O sabor e o gosto deste produto agradam e são desejados por muitos, que resistem muito a trocá-lo por outra coisa, mas seu consumo vem sendo cada vez mais desaconselhado pelos especialistas em saúde. Trata-se do açúcar, cuja adição aos alimentos passou a ser mais exposta e passível de controle pelos consumidores e nutricionistas. Desde outubro do ano passado, uma resolução da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) determina que as fabricantes de alimentos informem, nos rótulos dos produtos, se cada produto tem ou não alta quantidade de açúcar adicionado, sódio ou gordura saturada.
O açúcar adicionado está presente em boa parte dos produtos industrializados e ultraprocessados que atualmente, em razão da praticidade, são mais consumidos do que os alimentos in natura, como refrigerantes, sucos industrializados, achocolatados, biscoitos recheados, bebidas esportivas, molhos prontos, frutas em conserva, chocolates e bebidas lácteas.
A professora Andreza Araújo, do curso de Nutrição da Universidade Tiradentes (Unit), alerta que o excesso do consumo desses alimentos e do próprio açúcar está associado a malefícios como o aumento do risco de sobrepeso e obesidade, cáries dentárias, deficiência de nutrientes, além do desenvolvimento de doenças crônicas não transmissíveis (DCNTs) como diabetes, cânceres, doenças cardiovasculares, doença renal e doença hepática não alcoólica com o acúmulo de gordura no fígado. “Vale ressaltar, que além do açúcar esses alimentos podem trazer em sua composição outros elementos, igualmente prejudiciais, como: elevado teor de gordura, principalmente a gordura saturada e excesso de sódio (sal)”, acrescenta ela.
Apesar desse alerta, o açúcar em si tem uma utilidade para o corpo humano, se consumido em quantidades moderadas. Integrante do grupo dos carboidratos e também conhecido como sacarose, ele é responsável por fornecer a maior parte da energia necessária ao funcionamento das células e à manutenção dos diversos órgãos e sistemas do corpo. Alguns açúcares, como glicose, frutose e galactose são encontrados naturalmente em frutas, legumes, em alguns grãos, no leite e seus derivados.
“A digestão dos carboidratos se inicia na boca, é interrompida no estômago devido a acidez gástrica e continua no intestino delgado através de enzimas que são liberadas pelo pâncreas. A quebra do carboidrato através desse processo forma moléculas menores (glicose, frutose e galactose) que são absorvidas pelas células do intestino e seguem para o fígado. Neste último órgão a glicose poderá ser armazenada ou liberada para a corrente sanguínea, a fim de fornecer energia para as células do corpo”, detalha a professora.
Quantia recomendada
De acordo com a OMS (Organização Mundial de Saúde), a quantidade recomendada de ingestão de açúcar por dia deve ser, de preferência, menor que 5% do consumo energético total. Isso representa aproximadamente 25g de açúcar, o equivalente a seis colheres de chá. No entanto, uma Pesquisa de Orçamentos e Famílias (POF) feita em 2018 pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apontou que 85,4% dos brasileiros adicionam açúcar a alimentos e bebidas. E de acordo com o Ministério da Saúde, a quantidade de consumo médio de açúcar dos brasileiros chega a 80g por dia, bem acima do limite recomendado. “A adição de açúcar pode estar relacionada ao aumento da palatabilidade, conservação e mudanças na viscosidade e textura por exemplo, contribuindo para melhor aceitação dos consumidores”, avalia Andreza.
Sobre a mudança da rotulagem, a Anvisa afirma que seu objetivo é auxiliar o consumidor a fazer suas escolhas de forma clara e objetiva quanto ao elevado conteúdo dos nutrientes que interferem em sua saúde. “Apesar de ter sido um avanço para a orientação dos consumidores, percebe-se ainda assim a necessidade de regulamentos e projetos que promovam a mudança do hábito por meio da educação, e principalmente que as indústrias sejam guiadas a fim de diminuir a adição desse nutriente nos produtos comercializados. É fundamental promover ambientes saudáveis e fortalecer a educação e informação acerca das melhores escolhas”, observa a nutricionista, que defende uma mudança gradual de comportamento associando a alimentação saudável à prática de atividades físicas.
“O Guia Alimentar para a População Brasileira orienta para um aumento do consumo de alimentos in natura e diminuição da ingestão dos alimentos minimamente processados e processados. O açúcar de adição deve ser consumido em pequenas quantidades e não deve ser consumido por crianças menores de dois anos de idade”, conclui Andreza.
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