Inaugurado em 2000, a galeria Félix Mendes, instalada no segundo pavimento da Biblioteca Central da Universidade Tiradentes, campus Farolândia, é uma homenagem ao artista plástico autodidata, dono de traços primitivistas e com um inconfundível talento em retratar as tradições populares de Sergipe.
Em um mesmo espaço, telas e esculturas estão expostas como proposta pedagógica. A exposição traz ainda a produção de outros artistas plásticos.
“Além das obras de Félix Mendes, o acervo conta com trabalhos de José Lima, J. Inácio, Caã, Adauto Machado, Anete Sobral, Bené Santana, Beto Pezão, Elias Santos, Otávio Luiz e Silveira”, ressalta Sayonara Viana, licenciada em História, pós-graduada em Educação e Patrimônio Cultural de Sergipe e Museóloga.
Por conta da pandemia, o espaço continua sem previsão de para receber visitantes, mas em breve será possível fazer uma visita online.
“Estamos desenvolvendo um projeto de um tour virtual apresentando as obras expostas com depoimento dos artistas e pesquisadores das Artes Plásticas em Sergipe”, adianta a museóloga.
Félix Mendes
Félix Mendes nasceu na cidade de Estância/SE, mas morou em vários Estados do Brasil e em alguns países da América Latina. Em 1950, mudou-se com a família para Aracaju/SE, onde estudou do primário ao científico. Autodidata, seus primeiros desenhos datam de 1956 e foram expostos no Colégio Americano Batista, onde estudava à época.
Djanira, Álvaro Santos e, em especial, Florival Santos são lembrados e citados pelo artista como fontes de influência. De Florival Santos, recebeu, além de incentivo, orientação técnica para o desenvolvimento de sua arte.
Seu primeiro emprego público foi como vendedor de selos nos Correios. Ativista atuante no movimento estudantil, participou da União Sergipana dos Estudantes e da União Brasileira dos Estudantes e, em 1964, foi delegado da UBES em Sergipe, em plena efervescência do golpe militar, atitudes que o levaram à prisão.
Antes de se dedicar exclusivamente à pintura, trabalhou como jornalista para os jornais Tribuna da Imprensa no Rio de Janeiro, Gazeta de Notícias do Rio e Correio do Povo.
Em 1973, participou de exposição coletiva no Instituto Histórico e Geográfico de Sergipe e, no ano seguinte, realizou a sua primeira individual, na Galeria de Artes Álvaro Santos em Aracaju/SE. Em busca de melhores condições para desenvolver a sua arte, em 1974, mudou-se para o Rio de Janeiro/RJ e trabalhou no ateliê do irmão, o também artista Ubirajara, a quem reconhece importância fundamental em sua carreira. No Rio de Janeiro, costumava expor os seus quadros nas ruas e nas praças daquela cidade, até que um dia, o jornalista gaúcho Osmar Flores o descobriu e o projetou.
A arte de Félix Mendes já percorreu diversos rincões pelo Brasil afora, pois expôs, além de Aracaju/SE, no Rio de Janeiro/RJ e em Brasília/DF. No exterior, realizou exposição na Itália, na Argentina e na Galeria Itas Enramana, no Paraguai.
Pintor de traços primitivistas, soube, por excelência, como ninguém, traduzir o colorido e a alegria das festas, folguedos e tradições populares de Sergipe. Talentoso e perfeccionista, em sua pintura, de característica naif, a cor, com predominância dos tons primários, tem papel de protagonista principal, por isso notabilizou-se fazendo temas folclóricos, regionais e paisagens turísticas do Rio de Janeiro.
Félix Mendes, também, trilhou no universo musical como compositor. Como produtor cultural, na sua temporada carioca, foi grande divulgador dos festejos juninos de Estância/SE. De volta a Sergipe, foi Secretário de Cultura Municipal de Estância/SE e, em Aracaju/SE, tornou-se conhecido como organizador do forró e do natal da Rua Siriri.
Segundo o crítico Walmir Ayala, Felix Mendes “é um homem documento, inscrito na paisagem urbana ou rural na festa, no folguedo, no trabalho, no artesanato, na fantasia e na agrura. Todos os elementos ambientais destas realidades lembradas por Félix Mendes com lirismo estão presentes nos quadros, com o mesmo valor plástico dos rostos, das mãos, dos gestos e posturas. Pode-se dizer que o biótipo de um boi de bumbá é tão humano quanto o místico acompanhante ou o montador da burrinha. A intensidade deste nivelamento visual é notável nesse pintor que quer emocionar filtrando o espírito comunitário, fazendo dele um logotipo cheio de cor, de fitos, de formas decorativas”.
Com informações PGE/MárioBrito
Leia também:
Espaço Joel Silveira conta a história do maior jornalista literário brasileiro