Decorar letras de músicas, aprender um idioma novo, montar quebra-cabeças e desafiar caça-palavras. Estas quatro atividades bastante comuns no cotidiano de milhares de pessoas representam, na verdade, um dos maiores exemplos de como funcionam as estruturas e funções do cérebro humano, a partir de estímulos internos e externos.
Na neurociência, este tipo de acontecimento é descrito como neuroplasticidade, que consiste na capacidade que o cérebro tem de se adaptar e se reorganizar ao longo da vida, em resposta a novas experiências, lesões ou mudanças no meio ambiente. “Ela está ligada ao desenvolvimento, à adaptação e ao aprendizado, e estudar as áreas cerebrais relacionadas faz toda a diferença na hora do tratamento”, explica o docente do curso de Neuropsicologia da Pós-graduação Lato Sensu da Universidade Tiradentes (Unit), pós-doutor em Psicologia e Educação pela Universidade de Aveiro, bolsista de Desenvolvimento Tecnológico Industrial C (CNPq) e fisioterapeuta emergencista do Hospital de Urgências de Sergipe (HUSE), Paulo Autran.
O conhecimento sobre a neuroplasticidade pode ser aplicado em diferentes contextos, visando a reabilitação de pacientes. Na psicologia, por exemplo, o seu uso está atrelado a uma técnica conhecida como neurofeedback, que tem como objetivo principal treinar o cérebro para que retome suas habilidades naturais, a exemplo da normalização de padrões eletrofisiológicos, produzidos por neurônios. Traduzindo para termos práticos, este tipo de tratamento pode auxiliar na cura de sintomas de doenças psicológicas, como a ansiedade e a depressão.
“Ao estimular o corpo dentro das suas limitações sensitivas e motoras, e da sua funcionalidade, a neuroplasticidade estimula também o sistema nervoso a se reparar, a se reorganizar, a realizar a sinaptogênese reativa, o brotamento e a neurogênese. Isso ajuda o paciente a voltar a andar, a falar e, possivelmente, até ser fluente em outras línguas. Sendo assim, a reabilitação promove a plasticidade do sistema nervoso, adaptando de forma funcional e estrutural, minimizando ou revertendo os efeitos das alterações estruturais (lesionais) ou funcionais do mesmo”, acrescenta o professor.
Neuroplasticidade na formação de neuropsicólogos
Dentro da especialização em neuropsicologia, a neuroplasticidade está direcionada à investigação de como a plasticidade cerebral influencia o comportamento, as emoções e os processos cognitivos. Para tanto, estudos de casos clínicos, com a observação direta de pacientes com lesões cerebrais, ajuda o profissional a compreender como o cérebro se adapta e compensa tais deficiências.
Outros fatores são as intervenções terapêuticas, a exemplo da terapia cognitivo-comportamental e a própria neurofeedback, usadas para promover mudanças positivas na plasticidade cerebral e no funcionamento da mente, assim como os estudos de neuroimagem.
“Como a neuroplasticidade é a capacidade que o cérebro tem de aprender e a se reprogramar, a neurociência possibilita o estudo dos processos sensitivos, motores e de integração que envolvem o sistema nervoso. Sendo assim, o profissional que estuda a neurociência consegue entender estímulos que impulsionam as ações do ser humano baseado nas emoções, comportamentos e outros processos cerebrais”, comenta Paulo.
Ainda sobre a especialização, o docente acrescenta que o uso de alguns aplicativos potencializam a aprendizagem integral do sistema nervoso, ampliando a dinâmica e imersão do curso. Algumas destas ferramentas são:
- Complete Anatomy 2024 – utiliza modelos 3D detalhados para auxiliar na compreensão da anatomia.
- Neuronify – facilita a compreensão de redes neurais.
- BrainView – disponível para MacBook, o recurso auxilia na análise dos componentes do cérebro humano.
“O diferencial dessa pós da Unit é mostrar, na prática, peças anatômicas humanas no laboratório de anatomia, trabalhando também com ambiente em três dimensões, onde os alunos são imersos no mundo da anatomofisiologia, examinando tanto o sistema nervoso central, quanto periférico. Para complementar o estudo, as patologias e os processos patológicos são apresentados em exames de imagens e através de artigos científicos dos últimos cinco anos, das principais revistas científicas da área da psicologia e da neurociência. Por fim, os alunos terão toda a compreensão de uma plasticidade sináptica, como ocorre a atividade sináptica, além do crescimento e desenvolvimento dos neurônios”, finaliza o professor.
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