Atrasos, superlotação, falta de veículos, espera sem conforto e risco de violência ou assédio. Esta é a rotina diária de quem depende do transporte público para ir trabalhar, estudar ou se divertir dentro da cidade. Estimativas apontam que cerca de 65% da população brasileira usa o ônibus, trem ou metrô como principal meio de transporte. De acordo com dados da NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos), 28% das viagens e deslocamentos dos usuários são feitos diariamente pelo transporte coletivo, sendo que o ônibus responde por 85,7% desse total, em sistemas que atendem hoje a 2.910 municípios.
Os problemas podem variar de acordo com a cultura e a realidade urbana de cada região, mas as queixas mais comuns se referem principalmente à pouca estrutura de atendimento, impontualidade, superlotação e insegurança. É o que aponta o arquiteto Rooseman de Oliveira Silva, professor do curso de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Tiradentes (Unit Sergipe). Segundo ele, a impontualidade tem a ver com a confiança no sistema de transporte coletivo. “Saber o horário de chegada do veículo e ter a certeza que este horário será cumprido é fundamental para atrair ou repelir pessoas”, disse ele, citando ainda as questões de disponibilidade dos veículos necessários para atender a demanda, de condições de estrutura dos veículos, pontos de ônibus e terminais de embarque, além de acessibilidade para pessoas com deficiência.
De acordo com Rooseman, as gestões públicas municipais precisam adotar planejamentos gerais e específicos para resolver as demandas do transporte coletivo. Isso pode ocorrer tanto pelo Plano Diretor de cada gestão quanto pelos chamados Planos de Mobilidade Urbana, determinados pela Lei 12587/2012, para cidades com mais de 20 mil habitantes. “É uma orquestração de planos que, estando em consonância e atentos aos problemas do município, pode contribuir para estabelecer um controle sobre a ocupação do solo urbano, um monitoramento sobre o crescimento da cidade em equilíbrio com o meio ambiente e uma integração dos modais de transporte, buscando valorizar a caminhabilidade, o incentivo ao transporte cicloviário, a melhoria contínua e permanente do transporte público coletivo e as restrições do uso do automóvel, sobretudo em áreas centrais”, afirma, referindo-se a outros modais de mobilidade urbana que devem ser incentivados.
O debate sobre transporte público envolve ainda a questão dos preços das passagens e do custo para manter o serviço, reclamado pelas empresas do setor. O professor da Unit concorda que equilibrar essa equação é um grande desafio. “O custo da tarifa está relacionado ao custo de combustível, mão-de-obra, manutenção dos veículos, impostos, etc. Mas ao mesmo tempo este custo precisa ser viável para quem paga. Ao trabalhador que ganha um salário mínimo, por exemplo, o custo do transporte público mensal corresponde a aproximadamente 20% do seu salário. Isso acaba sendo muito impactante para qualquer planejamento individual de gastos. Penso que este custo pode ser equilibrado através da concorrência na oferta do serviços de transporte, através da redução de impostos e, sobretudo, mediante negociações contínuas entre prefeitura, empresas, sindicatos e a população”, explica.
Para Rooseman, a pandemia do novo coronavírus, juntamente com as medidas restritivas adotadas pelas prefeituras para reduzir a circulação de pessoas, complicou ainda mais alguns problemas já existentes no transporte coletivo, mas apontou outros caminhos de solução. “Se os problemas de transporte ainda carecem de soluções no período pré-pandemia, tendem a se agravar durante a pandemia. Por outro lado, podemos visualizar consequências positivas também neste contexto pandêmico. E cada uma dessas consequências deve ser analisada com bastante atenção para que sejam tomadas decisões adequadas no futuro pós-pandêmico”, ressalta.
Entre as consequências negativas, ele aponta a redução do número de veículos, o impacto financeiro nas empresas e o risco de aumento da contaminação. Já as positivas estão relacionadas a redução de acidentes e mortes no trânsito, devido a viabilidade do home-office, a redução da poluição atmosférica e um melhor aproveitamento do tempo. “Essas consequências devem ser equacionadas no presente momento, visando a economia urbana, o equilíbrio ambiental e as necessidades da população”, concluiu o professor.
Asscom | Grupo Tiradentes