Rever os conceitos e as práticas sobre o que se come e como se come. Esta é a proposta do movimento Slow Food, uma grande rede de movimentos e coletivos de base que está presente em mais de 160 países e envolve vários atores ligados à alimentação, desde os produtores até os bares e restaurantes. Simbolizado pelo desenho de um caracol, pequeno molusco conhecido pelo rastejar vagaroso, ele promove uma alimentação consciente e prega um ritmo bem menos acelerado e mais cuidadoso de preparação e de degustação dos alimentos e refeições, garantindo que elas não venham a causar nenhum mal ou desconforto, proporcionando apenas prazer, saúde e bem-estar.
A ideia de criar o Slow Food surgiu na Itália, em 1986, quando uma grande rede norte-americana de lanchonetes fast food inaugurou sua primeira filial no centro histórico de Roma. Ativistas ligados à gastronomia local, liderados pelo jornalista italiano Carlo Petrini, protestavam próximo à lanchonete servindo aos pedestres pratos de penne e spaghetti preparados à moda caseira. Nos anos seguintes, vieram outras manifestações e um manifesto no qual defendiam o “direito ao prazer” e a “necessidade de um outro modo de se relacionar com um alimento”. O movimento foi formalizado como associação internacional em dezembro de 1989.
“O movimento surgiu como uma resposta crítica à cultura do fast food e à padronização alimentar. Ganhou força por meio da atuação de comunidades locais e de uma rede internacional que compartilha conhecimento, práticas e valores. A partir dessa rede, o Slow Food foi se consolidando como um movimento global de valorização da comida de qualidade, da biodiversidade e da justiça alimentar”, explica a professora Luana Mendonça Cercato, preceptora de estágio do curso de Nutrição da Universidade Tiradentes (Unit).
Segundo ela, o movimento valoriza a ideia de uma alimentação que seja saborosa, nutritiva e sustentável. “Seu propósito é resgatar o prazer de comer bem, com respeito à saúde, ao meio ambiente e às tradições culturais alimentares. Seu conceito se baseia em três pilares: o alimento deve ser bom (saboroso, nutritivo e adequado à cultura local), limpo (produzido de forma sustentável, sem agressão ao meio ambiente) e justo (com remuneração digna a quem produz e acesso democrático à comida de qualidade)”, define Luana.
A filosofia de ação do Slow Food abrange a forma de produção dos alimentos, dando prioridade a produções agroecológicas, a sistemas sustentáveis e ao uso mínimo de conservantes ou processos industriais. A professora acrescenta que o armazenamento também leva em conta práticas que preservem a integridade nutricional dos alimentos e o cuidado para se evitar desperdícios. No entanto, o movimento se manifesta de forma mais concreta em dimensões como o modo de preparo, que valoriza receitas artesanais e o tempo adequado de cozimento, e a escolha de ingredientes locais e sazonais.
Outro ponto bastante valorizado por quem adere ao Slow Food é, principalmente, o ato de comer com atenção e prazer. Isto passa por comer lentamente e mastigar várias vezes cada porção do alimento, procurando sentir todos os sabores, cheiros e texturas do que é servido. Um jeito de comer que é recomendado pelos nutricionistas. “Ao incentivar uma alimentação mais natural e o comer devagar, o movimento favorece a mastigação adequada e a digestão mais eficiente, o que melhora significativamente a absorção de nutrientes e pode reduzir diversos desconfortos gastrointestinais, bastante presentes na atualidade”, aprova Luana.
A professora acrescenta que a adesão ao Slow Food é uma decisão saudável e impacta positivamente a qualidade de vida, ao promover uma alimentação mais equilibrada, prazerosa e consciente. “Ao valorizar ingredientes naturais, sazonais e menos processados, contribui para a prevenção de doenças crônicas como obesidade, diabetes e hipertensão. Além disso, o ato de comer com calma e atenção melhora a digestão, reduz o estresse e fortalece os vínculos sociais e familiares à mesa. É uma escolha saudável e inteligente porque alia nutrição de qualidade, respeito ao corpo e ao meio ambiente, e consciência alimentar”, finaliza.
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