Certamente, você já deve ter acordado com medo de “perder a hora” de se arrumar para a escola, trabalho ou faculdade, mas percebido imediatamente que não perdeu a hora, mas conseguiu acordar no mesmo horário habitual, mesmo sem usar despertadores. Um fato que você provavelmente atribuiu a um “relógio biológico” ou “reloginho interno”, que funcionaria dentro do corpo humano. Uma figura de linguagem que faz sentido, pois ela denomina um mecanismo de funcionamento do corpo humano que garante o funcionamento correto dos órgãos, dos sistemas e das funções fisiológicas e hormonais. É o que a literatura médica chama de “ritmos circadianos”.
Estes ritmos são ciclos biológicos de aproximadamente 24 horas, que regulam diversas funções corporais essenciais, incluindo o ciclo sono-vigília, a liberação de hormônios, a temperatura corporal e o equilíbrio interno, chamado de homeostase. “Os ritmos circadianos garantem que as funções biológicas ocorram em sincronia com o ambiente, como estar alerta durante o dia e descansar à noite. Quando esses ritmos estão alinhados, o corpo opera de maneira mais eficiente, com melhor desempenho cognitivo, metabolismo, regulação emocional e saúde geral”, explica o professor Augusto César Santiago Araújo Júnior, do curso de Medicina da Universidade Tiradentes (Unit).
Esses ritmos são mantidos por um Núcleo Supraquiasmático (NSQ) situado no cérebro, junto ao hipotálamo, mas também são influenciados por fatores externos, como a luz e a temperatura. Isso mostra como o alinhamento correto dos ritmos circadianos é fundamental para manter a saúde física e mental. De acordo com Augusto César, os desalinhamentos causados por fatores como jet lag (dessincronia com um fuso horário habitual), trabalho em turnos noturnos ou exposição inadequada à luz, podem levar a problemas de sono, fadiga crônica, baixa imunidade, distúrbios de humor, e até mesmo a um aumento do risco de doenças crônicas, como obesidade, diabetes e doenças cardiovasculares.
“Os ritmos circadianos desempenham um papel fundamental na regulação do ciclo sono-vigília. Quando esses ritmos estão desregulados ou desalinhados, há um maior risco de desenvolvimento de distúrbios do sono, como insônia ou distúrbios do ritmo circadiano.Essa relação existe porque os ritmos circadianos são responsáveis por sinalizar ao corpo quando é hora de dormir e quando é hora de estar acordado. Desalinhamentos entre o ritmo circadiano interno e o ambiente externo interferem nesses sinais, dificultando a capacidade de adormecer, permanecer dormindo ou acordar no momento adequado”, detalha o professor.
Entre os principais distúrbios do sono, condições que afetam a capacidade de dormir bem de forma regular, estão a insônia (dificuldade em adormecer ou manter o sono), a apneia do sono (interrupção temporária da respiração durante o sono), a síndrome das pernas inquietas (desejo irresistível de mover as pernas durante o descanso) e os distúrbios do ritmo circadiano (quando o ciclo sono-vigília não está sincronizado com o ambiente).
A regulação do sono aos ciclos corretos passa por ajustar os ritmos circadianos, o que depende de quatro medidas principais que devem ser tomadas por cada pessoa:
• Manter horários regulares de sono e despertar.
• Expor-se à luz natural durante o dia, especialmente pela manhã, e evitar luzes artificiais fortes à noite.
• Limitar o uso de dispositivos eletrônicos antes de dormir, pois emitem luz azul, que pode interferir no ritmo circadiano.
• Criar um ambiente de sono confortável e relaxante, com uma temperatura adequada e pouca iluminação.
“Para manter o alinhamento, é importante seguir essas práticas de forma consistente, mesmo nos fins de semana, e evitar mudanças bruscas nos horários de sono. Em alguns casos, a terapia de luz ou o uso de melatonina sob orientação médica pode ser necessário para ajustar o ritmo circadiano”, conclui Augusto César.
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