O Censo Agropecuário de 2017, realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informa que 70,2% das empresas e casas rurais utilizam agrotóxicos regularmente. Até o dia 02 de dezembro deste ano, o governo federal aprovou o uso de 500 novos agrotóxicos, desses 6% são produtos inéditos. A liberação equivale a 1,4% a mais que em 2020 e até o momento o país já comercializa 3.567 pesticidas. Cenário diferente da União Europeia, por exemplo, que proíbe o uso de cerca de 30% dos pesticidas utilizados no Brasil.
Dados coletados nos 26 estados brasileiros pelo Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos (Para), desenvolvido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), apontam que cerca de um terço dos alimentos consumidos pela população estão contaminados por agrotóxicos. Além disso, ainda de acordo com a pesquisa, aproximadamente 28% destes alimentos apresentam componentes tóxicos não autorizados no país ou quantidade acima do limite permitido.
A quantidade de pesticidas presentes nos alimentos tem preocupado cada vez mais a sociedade, uma vez que a principal forma de contato dos brasileiros com os agroquímicos é através de frutas, verduras e água. De acordo com o último levantamento realizado pela Anvisa, os alimentos mais contaminados, respectivamente, são: pimentão, morango, alface, pepino, abacaxi, cenoura, laranja, uva, mamão e tomate. Além disso, uma análise de dados realizada pelo Ministério da Saúde aponta que uma a cada quatro cidades brasileiras consomem água contaminada por agrotóxicos.
Como resultado do contato e ingestão desses pesticidas, um dossiê desenvolvido pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco) junto ao Ministério da Saúde, demonstra que entre 2007 e 2014, o Sistema Único de Saúde (SUS) recebeu cerca de 34.147 casos de intoxicação por pesticidas. O dossiê também aponta que entre os anos 2000 e 2012, o Brasil teve um aumento de 288% no uso desses produtos químicos. Segundo uma reportagem do portal G1, o governo federal brasileiro liberou o uso de 500 novos agrotóxicos entre janeiro e 02 de dezembro deste ano, 1,4% a mais que no ano passado. Até o momento, 3.567 pesticidas são comercializados no país.
O que é agrotóxico?
Conhecidos também como pesticidas, defensivos agrícolas, produtos fitossanitários ou agroquímicos, os agrotóxicos são “os produtos e os agentes de processos físicos, químicos ou biológicos, destinados ao uso nos setores de produção, no armazenamento e beneficiamento de produtos agrícolas, nas pastagens, na proteção de florestas, nativas ou implantadas, e de outros ecossistemas e também de ambientes urbanos, hídricos e industriais, cuja finalidade seja alterar a composição da flora ou da fauna, a fim de preservá-las da ação danosa de seres vivos considerados nocivos”. O conceito é de acordo com a Lei nº 7.802/89, que também regulamenta todas as práticas relacionadas aos pesticidas.
A Organização das Nações Unidas (ONU) estima que as plantações sem proteção correta podem ter perdas de aproximadamente 40% de seus produtos, o que demandaria mais terras e insumos. Por isso, o uso de agrotóxicos é voltado para controlar e combater pragas, ervas daninhas e doenças que podem surgir em determinadas plantações.
Sintomas e efeitos
No que se refere à intoxicação aguda, ou seja aquela vinda de uma ou múltiplas exposições em que os sintomas surgem imediatamente ou em no máximo duas semanas, os principais sintomas são náuseas, vômitos, tonturas, desorientação, dificuldade respiratória, salivação excessiva e diarreia.
Segundo o Instituto Nacional do Câncer (Inca), em 2018 a Anvisa classificou que os sintomas crônicos mais comuns são, “dificuldade para dormir, esquecimento, aborto, impotência, depressão, problemas respiratórios graves, alteração do funcionamento do fígado e dos rins, anormalidade da produção de hormônios da tireoide, dos ovários e da próstata, incapacidade de gerar filhos, malformação e problemas no desenvolvimento intelectual e físico das crianças. Estudos apontam grupos de agrotóxicos como prováveis e possíveis carcinogênicos”.
Para a Organização Mundial da Saúde (OMS) a cada caso de intoxicação por agroquímicos notificado, outros 50 não são. É por conta do aumento do uso desses produtos e de tantos perigos à saúde que eles causam, que diversas pessoas acabam recorrendo à alimentação orgânica, nas quais os produtos são cultivados sem agrotóxicos.
Asscom | Grupo Tiradentes