O avanço das tecnologias e as constantes mudanças na sociedade moderna também vem interferindo no jeito em que essa população consome cultura, e com muitas possibilidades de fazer isso sem sair de casa. Um levantamento mais recente neste sentido foi a quarta edição da pesquisa “Hábitos culturais”, realizada em 2023 pela Fundação Itaú, em parceria com o instituto Datafolha. O estudo feito em setembro do ano passado entrevistou 2.405 pessoas entre 16 e 65 anos, de todas as classes econômicas e nas cinco regiões do país.
Desse total, 82% consomem música e 74% acessam produtos audiovisuais (como filmes, séries e shows) através de plataformas de streaming. Outros 48% ouvem podcasts e 42% lêem livros digitalmente, através dos chamados e-books. Por outro lado, 45% dos participantes disseram frequentar espetáculos presenciais de teatro, música e dança, enquanto 33% vão ao cinema, 26% vão a museus, 24% a peças de teatro infantil, 19% a centros culturais, 17% a seminários e 12% a saraus de poesia, música ou literatura. Em todos os quesitos, houve aumento significativo em relação à edição anterior da pesquisa, em 2022.
A tendência do consumo digital de cultura explodiu durante a pandemia da Covid-19 e manteve-se muito presente nos anos que se seguiram, mesmo com a retomada dos eventos presenciais. “Uma vez que passamos por um processo pandêmico, e essa vivência nos ensinou a consumir elementos de formas diferentes, tal qual a cultura. Pelo fato de estarmos em casa, fomos convidados a viver o mundo de uma forma diferente”, avalia o professor Matheus Luamm Formiga Bispo, do curso de Pedagogia da Universidade Tiradentes (Unit).
Ele cita que as plataformas e aplicativos trouxeram ainda fatores facilitadores, como economia, variedade, preço e facilidade de guardar livros e vídeos sem usar espaço físico. Isso sem contar a abertura de outras possibilidades para quem consome esses produtos culturais. “A partir da medida que nós nos adaptamos também como um elemento humano, nós conseguimos participar de diferentes realidades. Nós conseguimos estar presentes no trabalho, como também participar de reuniões virtuais para facilitar o deslocamento, horário, etc. Conseguimos participar de eventos fora da cidade, fora do nosso estado, por meio do digital”, aponta Matheus.
Ainda segundo o professor, o que está havendo é um crescimento progressivo desse público, que dá base para que o sistema do mercado digital possa continuar e também oportunizar novas ferramentas de conhecer as realidades. Apesar disso, ele considera que a ida presencial a teatros, museus, shows ou concertos não foi afetada pelas plataformas on-line e nem terá seu público revertido ou superado. “Costumo dizer que temos gostos para todas as opções disponíveis. Acredito que o número aumentou pelo fato de termos vivido muito tempo presos dentro de casa, e agora a gente tende a voltar ao convívio. O ser humano, por sua excelência, é um ser de socialização. Logo, é uma necessidade humana estar em contato com outras pessoas e fazer as interações”, diz.
Cultura que faz bem
A mesma pesquisa da Fundação Itaú/Datafolha desvendou os principais motivos que levam as pessoas a consumirem produtos e atividades culturais. Dentre os entrevistados, 28% evocam a convivência e interação com outras pessoas; 23% por distração, diversão e lazer; 20% para adquirir conhecimento; 12% para conhecer novos lugares; 12% para estar com a família e os filhos; e 11% por novas experiências.
Matheus Luamm lembra que a cultura é um elemento essencial para o cultivo da saúde mental e corporal de cada pessoa. “Quanto mais nos enriquecemos do elemento cultural em diferentes perspectivas, conseguimos afetar positivamente a nossa sanidade mental e contribuir em outras esferas. Quando estamos enriquecidos de música, de literatura, de dança, teatro, cinema, além da saúde mental, a gente consegue aumentar repertório cultural, repertório vocabular. Temos interações com novas pessoas, o nível de socialização também cresce, além de favorecer, de acariciar mente e coração, com as riquezas que os elementos culturais podem nos potencializar”, destacou.
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