A realização de exercícios físicos, principalmente em academias, suscita sempre uma dúvida comum entre os frequentadores iniciantes: deve-se focar em ganhar força ou melhorar a mobilidade? Esta pergunta acaba direcionando muitos planos de treino, que quando definidos corretamente, tendem a priorizar um equilíbrio coordenado dos exercícios que promovem e fortalecem estas duas importantes capacidades do corpo humano.
Há, inclusive, uma confusão que muitas pessoas costumam fazer na interpretação destes termos no âmbito da saúde e da fisiologia. É o que esclarece a professora Thaysa Passos Nery Chagas, doutora em Ciências Fisiológicas e professora dos cursos da área de Saúde da Universidade Tiradentes (Unit). Segundo ela, o termo “mobilidade” é um conceito que se refere à capacidade de mover-se livremente, mas acabou sendo usado popularmente para definir um conjunto de fatores que favorecem a fluidez do movimento, como a flexibilidade, a força, a estabilidade e a resistência.
“Quando você pensa num conceito, por exemplo, de mobilidade urbana, seria o ato de ir e vir livremente. Então a gente se apropria desse conceito dentro do exercício físico pensando na melhor forma de executar exercícios ou aplicá-los no nosso dia a dia. Então, a mobilidade é formada a partir de um conjunto de valências que vão favorecer a execução dos movimentos. E para que a gente desenvolva essa mobilidade, a gente precisa de alguns componentes”, explica Thaysa, citando a flexibilidade muscular, o controle do sistema nervoso e a estabilidade dos movimentos.
“Se eu estou precisando realizar um agachamento, tenho que ter uma boa amplitude de tornozelo, estabilidade no meu joelho, uma boa amplitude no meu quadril e estabilidade ali na minha musculatura paravertebral abdominal, para que estabilize muito bem ali o movimento. Então, para que eu execute esse agachamento, eu preciso de tudo isso funcionando em sincronismo. Isso é a mobilidade, o ato de você desempenhar bem uma função”, exemplifica a professora.
Já em relação ao termo ‘força’, Thaysa o qualifica como uma valência física, que pode ser definida pela intensidade do trabalho (no âmbito do exercício físico) ou pelas repetições máximas (na musculação). “Quanto mais próximo de uma repetição máxima, subentende que mais carga foi levantada e isso favorece a força. Então, a força está associada a sempre as maiores intensidades, as maiores cargas de trabalho. É uma valência física que é desenvolvida a partir da intensidade”, diz ela, que também é especialista em Treinamento Esportivo pelo Comitê Olímpico Brasileiro (COB).
A valência da força também auxilia em atividades diárias, inclusive as de carregar objetos e subir escadas, e melhora o desempenho do corpo na prática de esportes. “Você está mantendo ali músculos fortes, articulações extremamente protegidas, acaba favorecendo ali a redução de risco de lesões, e colabora também no âmbito da saúde, porque colabora também para a manutenção da densidade mineral óssea, metabolismo, controle postural. Desempenho esportivo também, já que existem muitas modalidades esportivas que necessitam de muita força para que você tenha o melhor rendimento”, destaca Thaysa.
Exercitando com cuidado
Os exercícios físicos, em geral, trazem benefícios tanto para a força quanto para a mobilidade. No entanto, existem alguns tipos específicos de exercícios que priorizam determinadas áreas e funções do corpo. Um exemplo é o conjunto de exercícios de alongamento, indicados para ampliar as articulações e melhorar a flexibilidade dos movimentos. No entanto, a execução destes exercícios deve ser feita de maneira orientada, planejada e correta.
Thaysa Nery cita uma estimativa da literatura científica: cerca de 80% das lesões físicas sofridas pelos praticantes de exercícios ou esportes, são causadas por excesso de carga ou de repetições de um determinado movimento. “Muitas vezes a pessoa faz de forma repetitiva, por exemplo, uma corrida. A corrida é uma sequência de saltos, que causa impacto e fadiga. Essa fadiga acaba diminuindo a resposta muscular, deixa as articulações mais desprotegidas e, com isso, acaba causando micro-lesões. Se não tiver o intervalo adequado para a sua recuperação, essas micro-lesões podem se cronificar e efetivamente afastar esse praticante do ambiente de treinamento, da performance, do exercício”, alerta.
A principal dica passada pela professora é que cada pessoa, ao fazer um exercício físico, procure entender e, principalmente, respeitar o próprio condicionamento físico. Isso passa, inclusive, por respeitar os intervalos de tempo entre um exercício e outro, para que o organismo descanse e se recupere do esforço empregado. “Tente trabalhar de forma a melhorar a qualidade do gesto esportivo, a qualidade da valência e não a quantidade. O excesso vai inibir qualquer tipo de melhoria na performance, porque quando a gente pensa no que a gente ganha com exercício é justamente no período de recuperação e não quando a gente está ali realizando”, orienta a professora.
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